AVES 
              DA RESERVA BIOLÓGICA DO LAGO PIRATUBA E ENTORNO, AMAPÁ, 
              BRASIL 
           
          Antonio 
            Augusto Ferreira Rodrigues¹
          Uma lista de 139 
            espécies de aves é apresentada para uma extensão 
            de área que vai do Arquipélago do Bailique até 
            Amapá, incluindo a região dos lagos e Ilha de Maracá. 
            Muitas espécies de aves registradas nesses levantamentos ocorreram 
            em todas as áreas, sugerindo um continuo de um sistema ecológico 
            com características semelhantes, embora com graus de perturbação 
            antrópica diferenciados. A avifauna levantada incluiu diferentes 
            feições: Floresta de Várzea, Campo Periodicamente 
            Inundável e Manguezal. As aves foram observadas através 
            de binóculos ao longo de trechos de igarapés e rios 
            e em áreas costeiras, tendo o sistema manguezal e de praias 
            como dominante. Os trabalhos foram realizados em 2001, 2002 e 2004 
            (época chuvosa e seca). Durante todo o trabalho, a principal 
            atenção foi dada às espécies de aves aquáticas 
            e às espécies de aves ligadas à água. 
            Muitas aves que ocorrem no interior da várzea são de 
            difícil observação, portanto, o levantamento 
            nessa área não é completo. Muitas espécies 
            dentro do grupo dos Ciconiiformes (garças, guarás, taquiris, 
            maguaris e etc.) que se encontram na REBIO Piratuba, provavelmente 
            são de ocorrência anual, inclusive se reproduzindo nessa 
            área. Observa-se uma fauna migratória de larga distância 
            dentro da REBIO Piratuba. 
          A reserva é ponto de parada e invernada 
              para algumas espécies como os maçaricos setentrionais 
              que depois da reprodução no hemisfério norte, 
              migram para o hemisfério sul passando nas regiões do 
              norte do Brasil na viagem para o sul ou permanecendo nessas regiões 
              para passar o inverno do hemisfério norte, bem como a águia 
              pescadora Pandion haeliatus. Há a ocorrência de uma espécie 
              de Falconiforme, o gavião caramujeiro Rostramus sociabilis 
              conhecido localmente como “papa-aruá” utilizando 
              uma dieta a base de caranguejos. R. sociabilis é uma espécie 
              malacófaga e a explicação a mudança de 
              dieta provavelmente reside no fato da grande ocorrência de búfalos 
              na localidade alimentando-se de macrófitas, vegetação 
              disponível para a reprodução do molusco aruá. 
              Portanto, a intensa predação de macrófitas pelo 
              búfalo levou a diminuição ou mesmo a extinção 
              dos nichos reprodutivos do aruá. Foi detectada uma grande matança 
              de guarás na Ilha Vitória, essa atividade parece não 
              ocorrer na REBIO Piratuba. A conservação de áreas 
            úmidas para essa espécie e a proteção 
              de seus ninhais é de crucial importância na manutenção 
              de uma população viável do ponto de vista genético 
              nesse sistema. De maneira direta e indireta, o homem tem alterado 
              o ritmo das mudanças naturais das áreas úmidas. 
              As perdas de áreas úmidas originadas pelo uso intensivo 
              agropecuário, industrial, residencial, bem como a formação 
              de lagos para criação de camarões e peixes, reservatórios, 
              canais, dentre outros, têm fragmentado a extensão e alterado 
              a estrutura natural dos ecossitemas úmidos. Na REBIO Piratuba, 
              especificamente a criação extensiva de búfalos 
            é uma série ameaça a flora e fauna. 
          Como já 
            observado em diversos trabalhos realizados no ecossistema de várzea 
                sobre os diversos assuntos, do ponto de vista da avifauna, a ameaça 
            é a mesma. Aparentemente, cria-se uma cadeia de problemas que 
                tem sua origem na introdução de animais pastadores de 
                grande porte. Esse contínuo de problemas finaliza nos animais 
                de topo de cadeia, onde a capacidade de suporte alimentar pode não 
                ser suficiente para a manutenção das populações 
                originais, levando a declínios populacionais ou mesmo a extinção 
                de algumas espécies.
           
          
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