REGIÃO DOS LAGOS E SUCURIJU
A biodiversidade brasileira constitui um dos principais recursos ainda disponíveis à realização do anseio nacional de desenvolvimento. A despeito da permanência continuada de práticas destrutivas de uso do patrimônio biológico, prevalece também a convicção de que o crescimento técnico e sócio-econômico produzirá o saber necessário ao aproveitamento harmonioso dos recursos naturais e à distribuição eqüitativa de seus benefícios. O governo brasileiro tem estimulado a formação de parcerias entre o Poder Público e a sociedade civil no conhecimento e na conservação da diversidade biológica. Entre essas iniciativas, o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira - PROBIO tem propiciado oportunidades de financiamento para os esforços de diversos agentes, com a participação importante da comunidade científica. Em 2002, um consórcio de instituições lideradas pelo IEPA ganhou num edital público do PROBIO recursos para a execução de um inventário biológico numa das mais singulares regiões da costa Norte do país. As áreas Sucuriju e Região dos Lagos, na zona costeira amapaense, haviam sido recentemente classificadas como "de importância extremamente alta para conservação", em dois encontros promovidos pelo governo brasileiro com o intuito da identificação de áreas prioritárias para conservação. Naquela região, existem já duas unidades de conservação de uso restrito (Reserva Biológica do Lago Piratuba e Estação Ecológica Maracá-Jipioca), além da proposição recente para a criação da Reserva Marinha Extrativista do Sucurijú.
O objetivo maior do trabalho foi o recolhimento de informações sobre os ecossistemas e paisagens, bem como sobre espécies que compõem a biota daquela região, com ênfase na riqueza, distribuição/endemismo, e potencial de uso sustentável. Essas informações serão disseminadas ao público, com recomendações para os segmentos da sociedade responsáveis pelo planejamento integrado da conservação e uso sustentável da biodiversidade daquela região. Foram coletados espécimes e informações sobre plantas, fungos macroscópicos, crustáceos, vespas e abelhas, mosquitos vetores de arboviroses, peixes, aves e mamíferos. Do ponto de vista científico, o projeto proporcionou um quadro rico de informações sobre biodiversidade numa região ainda pouco conhecida e com características únicas na América do Sul. As informações geradas terão impacto sobre o conhecimento de uma extensa faixa da zona costeira brasileira.
A experiência do projeto também ajudou a consolidar os grupos de pesquisa em biodiversidade e ecossistemas com atuação no extremo norte do país, formados por pesquisadores do IEPA, MPEG, UFMA, UFPR e Conservation International do Brasil. Os trabalhos de campo, conduzidos em proximidade com as populações da área, deverão ter reflexos positivos no nível de consciência local sobre as necessidades de conservação dos recursos. A participação de moradores das áreas na construção do quadro de informações do inventário terá sido enriquecedora para ambas as perspectivas, da investigação científica e do conhecimento tradicional.
Orlando Tobias da Silveira
Pesquisador
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